- Larga a chave do carro! Larga a chave, porra!
As pessoas na rua olham, assustadas, e aceleram o passo. A mulher, já lá com seus trinta e poucos, começa a andar pra trás.
- Larga isso ou eu estouro a sua cabeça!
- Calma, espera, eu--
- Larga a chave no chão, caralho!
- Pelo amor de Deus, por favor, você não enten--
BANG!
Jerry, com uma meia-calça marrom na cabeça, dispara e acerta a barriga da mulher. Ela abaixa, com a mão no lugar antingido. As pessoas na rua gritam e começam a correr. Jerry é retardado. São duas da tarde, a rua está lotada de pessoas e assim, sem mais nem menos, ele resolveu roubar um carro e dar tiros à queima-roupa.
- Me dá a chave! - ele grita. - Entrega a porra da chave!
Ele vai até a mulher ferida e tira a chave de sua mão, empurrando-a no chão. Chorando e com sangue escorrendo da boca, ela tenta dizer alguma coisa incompreensível, segurando Jerry pela calça. Eu atravesso a rua, já mascarado, e corro até eles.
- Porra, Jerry, qual é o seu problema!?
- Meu bebêeee - resmunga a mulher, chorando, com uma mão na barriga e a outra na perna de Jerry.
- Você dirige - ele responde.
Então Jerry joga as chaves pra mim e, de repente, dispara a arma mais duas vezes acertando o rosto da mulher. BANG! BANG! A parte de trás de sua cabeça estoura e um jato de sangue é espirrado no chão do estacionamento. As pessoas na rua gritam de horror. Eu entro no carro, apressado, ligando-o imediatamente.
- Vamo! - digo. - Entra!
Jerry, olhando pros lados preocupadamente, arrasta pelos pés o cadáver da mulher que acabou de matar.
- Jerry! - grito, buzinando. - Entra logo na merda do carro!
Jerry fica uns instantes segurando os calcanhares da mulher.
- Entra, cacete!
Ele larga as pernas dela e corre pro outro lado do carro. Blam! Ele fecha a porta e eu dou ré e manobro o carro no mesmo instante, derrapando.
RIIINC!
Enquanto já acelero pra frente, Jerry resmunga:
- Porra, Billy, ela tinha peitos maravilhosos...
Eu não respondo. Viro derrapando de novo e disparo na rua em alta velocidade, saindo de lá o mais rápido possível.
- Cinco pessoas, Jerry - comento. - Pra que eu preciso dum carro com um porta-malas pra cinco pessoas!?
- Ué, a gente pode pegar várias de uma vez... ou então ir juntando...
- E por que eu ia torturar 5 pessoas ao mesmo tempo!?
- Uhnn...
Não foi Jerry que fez esse som.
- Ueee...
- Caralho, mas que merda é essa...? - pergunto.
Continuo dirigindo, olhando pra frente e respirando bem fundo pra me tranquilizar. Jerry se volta para o banco traseiro.
- Puta que pariu, Stan.
Sentado numa cadeirinha especial, estava um bebê de macacão jeans e blusinha branca, com um bonezinho na cabeça.
- Uéeee...
- É a porra de um bebê, Stan.
- Puta que pariu, Jerry...
- Porra, eu não vi que--
- QUAL É A PORRA DO SEU PROBLEMA, JERRY!?
- EU NÃO VI, CACETE, TÁ BEM!?
- Ah, claro! Você estava ocupado demais descarregando seu revolverzinho naquela mulher!
- Ué, porra, ela não entregava a merda da chave!
- Ah é!? E por que será!? Será que foi porque o filhinho de 6 meses dela ia ser roubado junto ou porque o carro não tinha seguro...?
- UÉEEEEEEE!!!
- Porra, o que a gente faz!?
- Você que se vira, Jerry... a ideia foi sua.
- UÉEEEE!!! UÉEEEEEE!!!
- Mas pelo amor de Deus, dá pra calar a boca dele logo!?
Jerry tira o bebê de sua cadeirinha e ele para de gritar por uns instantes.
- A gente devia torturar ele...
- Como é que é, Jerry…?
- É, porra, levar ele pro trailer e torturar.
- Vai se foder! Eu não vou torturar um... bebê!
- Porra, por que não!?
- Porra, porque... não!
- UÉEEEE!!!
- Ah, era só o que me faltava... você tem peninha!?
- UÉEE! UÉEEEEE!!!
- Claro que não e... cara, cala a boca dele, pelo amor de Jesus Cristo filho de Deus.
Jerry mete a mão na boca da criança e seus berros ficam um pouco abafados.
- Torturar um bebê não faz sentido - explico. - Olha pra ele... ele já tá em seu sofrimento máximo. A gente pode pegar um grampeador e encher o moleque de grampos que ele vai chorar tanto quanto agora. Esse merdinha já tá no volume máximo.
- Ai!
- UÉEEEE!!!
- Que foi!?
- Ele mordeu a minha mão!
Conforme saímos da zona quente da cidade, abaixo os vidros do carro e o ar fresco do subúrbio entra pela janela. O desgraçado do bebê não para de gritar. Por mais que já estejamos seguros, continuamos em alta velocidade.
- Joga - digo.
- Como é que é? - pergunta Jerry, ainda abanando a mão de dor, como se o bebê tivesse dentes.
- UÉ! UÉ! UÉEEEEE!!!
- Joga o bebê, imbecil.
- Eu não vou atirar um bebê pela janela! - diz Jerry, apertando a criança contra o peito, fazendo-a tossir.
- Joga, porra! Não tem ninguém aqui!
- Eu não! Ele pode ser valioso!
- Como assim valioso, cara!?
- Cof, cof... uéeen...
- Ué, a gente pode tentar vender no mercado negro ou--
- HAHA! Porra, Jerry... quem ia comprar um bebê no mercado negro!?
- Se você não sabe, uma porrada de gente adoraria comprar um bebê - responde Jerry, num tom arrogante, abraçando a criança. – É difícil arrumar um bebê assim, sem registros... aposto que pagariam BEM por ele.
- AHAHAHAHAH!!!
Jerry faz uma pausa, olha o rostinho vermelho e chorão da criança e continua, todo aborrecido:
- Caso você não saiba, aliás, um médico conseguiu milhões ao vender na internet o feto abortado daquela tal de Lorry Cornails.
Paro de rir no mesmo instante. Que coisa escrota. Eu pensava que os psicopatas éramos nós. Onde é que esse mundo vai parar?
- Enfim, foda-se, Jerry... me dá isso aqui!
- Porra, Stan, me larga!
O carro segue seu caminho rumo ao deserto, zigue-zagueando pela pista conforme Jerry e eu competimos pelo bebê. Com a carinha vermelha e toda contorcida, o bebê não para de berrar, aos prantos.
- UÉEEEE!!! UÉEEEEEEEEE!!!
De repente, Jerry deixa a criança escapar sem querer. O bebê salta em minha direção, do nada, e eu o deixo escapolir janela a fora num reflexo instintivo.
- UÉEEeeee...
O choro fica pra trás. Vejo o menininho quicar e rolar pela estrada, deixando um rastrinho de sangue na pista. Subitamente, BLOC!
RIIINC!!!
O carro que vinha logo atrás passa por cima da criança, fazendo com que a roda do veículo esmagasse até estourar o tronco do bebê que voou pela janela.
- Olha a merda que você fez, Stanley... puta que pariu...
Paro o carro a alguns metros dali e fico observando.
- Cala a boca, Jerry...
- Papai, o que foi isso...?
Dentro do carro prateado que estava logo atrás de nós, uma menininha de cabelos castanhos e ondulados pergunta ao pai que tranco foi aquele.
- Eu... eu não sei - responde o homem, preocupado, provavelmente já com uns quarenta e tantos.
- Desce do carro pra ver - sugere sua outra filha, já mais velha, com uns dezesseis.
O motor dos nossos carros continua ligado. O paizão desce, deixando a porta aberta. Ele abaixa e franze a testa, com uma cara de nojo, preocupado. Debaixo do carro, da roda dianteira, ele vê um emaranhado de tripas, pele e ossos, enrolados num pano.
Ele desvia o rosto imediatamente e comenta:
- Urgh, acho que a gente atropelou algum bicho...
- Atropelou!? – pergunta a filha adolescente. – Mas EU VI sair da janela do carro deles...
A mais velha desce do carro e, na mesma hora, o pai diz horrorizado:
- Ah meu Deus...
- Que foi...? - ela pergunta.
- Ah meu Deus, eu não acredito - ele repete, com os olhos molhados de lágrimas e a voz trêmula.
- Pai, que foi!?
- O que foi que eu fiz... - ele cobre o rosto e começa a andar pra trás.
A filha mais nova também desce do carro, mas a adolescente a interrompe imediatamente.
- Laurie, volta pro carro...
- Mas--
- Por favor, filha - ordena seu pai, ainda com a voz trêmula.
A menininha olha o pai chorando e abraça apertado seu bichinho de pelúcia. A filha mais velha, de cabelos curtos e artificialmente vermelhos, se abaixa pra ver o que era. Seu pai, ali atrás, vomita. Ela olha pra ele e, quando volta o rosto pra baixo do carro, reconhece imediatamente um bracinho e pedaços de um macacão ensanguentado. Costelinhas escapam pra fora de um emaranhado de órgãos. Também é possível reconhecer a cabecinha do bebê, separada do resto do corpo e virada pro outro lado, exibindo cabelinhos loirinhos e finos, sujos de sangue, balançando calmamente com o vento da estrada.
- Aimeudeus...
Ela, assim como o pai, começa a andar pra trás com a mão no rosto. Diferentemente dele, porém, ela não chora, fica apenas com uma expressão de horror.
- O que foi que aconteceu!? - ela pergunta, como que a si mesma.
Eu e Jerry, ali na frente, ficamos revirados de joelho em nossos bancos, espiando a cena como dois molequinhos travessos.
- Gostosinha - comenta Jerry.
A adolescente, de minissaia preta, faz um estilo roqueirinha ou sei lá. Usa uma blusa preta, de alguma banda, a tal da minissaia desfiada e all star vermelho, de cano longo. Ela conversa com o pai, que usa uma roupa branca e normal de trabalho, meio formal. A menina abraça o coroa e ele fica parado, soluçando, sem abraçá-la de volta.
De repente, ela aponta pra nós.
- Ih, caralho - comenta Jerry, me olhando.
- Haha - sorrio, arrepiado de excitação.
O pai vira pra gente, também, secando as lágrimas. Soluçando pra filha, ele diz algo que não conseguimos ouvir.
- Fica com a sua irmã... eu... eu vou lá falar com eles.
No caminho, o quarentão parece chorar ainda mais, provavelmente imaginando que tipo horrível de acidente resultou em um bebê voando pela janela do motorista. Ele chorava, eu acho, de preocupação com os pais da criança. Eles, porém, estavam muito longe dali. A mãe tinha dois tiros na cara e um na barriga, certamente morta, talvez ainda no asfalto até agora sendo fotografada. Já o pai do bebê devia estar em casa, sei lá, puto com a esposa, desconfiando que ela tenha um caso com o encanador, completamente alheio à morte da mulher e do filho.
Toc, toc, toc.
- Com licença - diz o cara, batendo no vidro escurecido do meu lado.
Toc, toc, toc.
- Ei... tem alguém aí...? - ele fica tentando fazer sombra com as mãos, pra ver o interior do carro.
Vmmmm...
Começo a abaixar o vidro e ele se assusta, dando um passo pra trás. De repente, levando um novo susto, ele nota a minha máscara sorridente e sente um calafrio de pavor percorrer o corpo inteiro.
- Bu - digo.
- MORRE!!! - grita Jerry.
O paizão se abaixa ao ver a arma e eu piso fundo antes que Jerry atire, dando um tapa em sua mão pra que ele não atirasse acidentamente em meu rosto.
- PORRA! Você quer me deixar surdo atirando essa merda na minha cara!?!?
Continuamos avançando na estrada e Jerry fica rindo enquanto eu tiro a máscara.
- Babaca - suspiro.
- Porra, Billy... imagina as garotas deixadas sem-pai no meio da estrada, com um bebê atropelado embaixo do carro...
- Puta merda, Jerry - sorrio alegre.
- Ah, vai dizer que não seria irado!?
- Não vale a minha audição.
- Que tal a gente voltar...?
Continuo dirigindo em silêncio.
- Hein, vamos voltar, cara...
Eu viro o rosto pro Jerry, completamente sério.
- Por favor, ninguém mais passa aqui - ele continua. - E as garotas são gostosinhas...
Eu diminuo a velocidade e paro o carro.
- Cinco pessoas.
- O quê? – Jerry pergunta.
- Cabem cinco pessoas no porta-malas.
- Bem, pelo menos as duas devem caber.
Eu dou de ombros pro Jerry e começo a dar ré.
- UHU!!! - ele grita. - Você é o cara, puta que pariu!
Sorrindo, piso fundo no acelerador. O carro vai tomando velocidade rapidamente.
A alguns metros dali, o pai da garota chora com os braços apoiados no capô do próprio carro. Sua filha mais velha, ali do lado, sugere que ele ligue pra polícia. Ele tira o celular do bolso. A filhinha mais nova, ainda dentro do carro, continua assustada, abraçando seu bichinho.
- Aimeudeus... Pai!!! - grita a adolescente.
Ouvindo um zumbido estranho, o pai se vira pra trás.
BLAM!
Atropelo-o diante das filhas. Suas pernas são esmagadas entre os nossos carros.
- ARGH! - ele grita, brevemente.
Seu celular voa no vidro da frente do carro. A filha mais nova grita e é jogada pra trás com o impacto. A mais velha salta pro lado.
- Papai!? - ela pergunta.
Ele fica com o tronco apoiado no capô do carro, gemendo de dor. Jerry abre a porta desce no mesmo instante. A menina mais velha olha, assustada, dando passos pra trás. Jerry sequer olha pra ela. Ele imediatamente puxa o cão da arma e finaliza o pai das meninas com um tiro na nuca, que abre um buraco em sua testa e molha de sangue e miolos o capô de seu carro.
BANG!
- AAAAHHHHHH!!!
A menininha mais nova grita, salta pra fora do carro e começa a correr, gritando fininho. Sua irmã, enquanto isso, continua andando pra trás até sair da estrada, chorando, com as mãos no rosto.
- Corre, Jerry! - ordeno, descendo do carro. - O que cê tá esperando!?
Ele me olha daquele seu jeito abobado e começa a correr atrás da menininha. Mascarado, me viro sorridente pra filha adolescente.
BANG!
...
BANG! BANG!
Jerry consegue acertar na panturrilha fina da menininha mais nova, que cai no chão na mesma hora e fica ali chorando, tentando alcançar seu bichinho de pelúcia que rolou pela estrada.
Jerry caminha triunfante até a menina, como se fosse um caçador. Enquanto olho a cena, a adolescente, que seguro pelo braço, tenta escapar. Na mesma hora dou uma rasteira nela, fazendo-a cair de joelhos. Passo a segurá-la pelo cabelo como uma espécie de escrava sexual ou sei lá. Ela fica ali de joelhos. A maquiagem borrada pelas lágrimas.
- Seus assassinos - ela resmunga, chorando, enquanto eu observo Jerry levantar a presa abatida e botá-la nas costas.
- Novidade - respondo, sem prestar muita atenção no que falo.
Depois disso, bastou colocar as duas no porta-malas. Levamos as duas ainda com vida à Caixa de Brinquedos, onde o sofrimento delas, finalmente, começaria.
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