segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Sem Dor, Com Vitória

Fui ao médico pra fazer o que o meu pai chama de "check-up geral". Não andava sentindo nada suspeito ou incômodo, mas a ideia do "check-up" prevaleceu. Meu pai acabou me levando ao médico de qualquer jeito.

- E aí? - ele perguntou, ansioso. - O garoto tá bem?

O médico olhava o exame com e sem óculos. Afastava e aproximava o papel. Só faltava virar o negócio de cabeça pra baixo.

- Hein? - meu pai insistiu, trêmulo de aflição. - Tem algo errado, não tem?



O doutor largou os exames na mesa e juntou as mãos, entrelaçando os dedos. Provavelmente, pro meu pai, aquele foi um momento de extrema tensão.

- Olha - começou o médico, com o meu pai já quase colapsando de nervosismo do outro lado da mesa. - Ele tá bem.

- Viu? - incitei, orgulhoso.

Meu pai, nem de longe, se mostrou mais calmo. Logo perguntou:

- Mas... e o colesterol? Tá bem?

- Tudo normal - respondeu o médico, dando de ombros. - Tudo perfeitamente normal.

- Mas...

Antes que meu pai continuasse a caçar problemas em mim, o médico fitou de novo os exames e interrompeu:

- O rapaz tá ótimo pra idade dele - levantando os olhos do papel, o doutor sorri pra mim. - Tá de parabéns.

- Mas ele come tanta besteira! - meu pai grita, de repente. - Não seria melhor ele fazer uma dieta especial? Algo mais natural, talvez? Deve tá falando alguma vitamina nesse menino, né? Não seria melhor se ele comesse pelo menos uma saladinha de vez em quando? - após um suspiro indignado, ele finaliza: - Ele só come tomate em pizza e alface em hambúrguer!

- Melhor seria - responde o médico, indiferente.

- Viu? - meu pai vira pra mim, como que feliz ao me diminuir. Voltando ao médico, ele continua com as perguntas: - E fazer uns exercícios? Ele só fica o dia inteiro sentado naquele computador! Aliás, falando nisso, a coluna dele tá OK?

Agora encarando um raio-x posto contra a luz, o médico responde que sim. Estou bem. Normal. Ótimo pra minha idade. Sorrio triunfante.

- Mas não seria bom se ele fizesse pilates? - meu pai pergunta, inconformado. - Uma natação, talvez, pra expandir esse peitoral?

- Seria - responde o médico, dando de ombros e deixando meu pai feliz por um breve instante. - Mas precisar, não precisa.

Meu pai desaba. Eu havia vencido. No caminho pra casa, enquanto dirigia, ele encarava a pista como se estivesse com raiva dela. Naquela ânsia paterna de "querer o meu bem", o coitado acabou torcendo pra encontrar o "mal" em mim. É irônico: ele me quer tão bem, mas tão bem, que eu precise ter sofrido pra merecer aquilo. Como ele próprio sempre disse: "sem dor, sem vitória". E foi pensando assim que ele acabou, contraditoriamente, me desejando mais a dor do que a própria vitória.

- E aí? - minha mãe pergunta, sorridente, quando chegamos da consulta. - Como é que foi no médico?

- Foi ótimo - meu pai responde, seco, passando direto. - Ele tá ótimo.

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