sexta-feira, 22 de julho de 2011

Relatos de um Jogador

O mundo é um jogo, sabe? O mundo não passa de um grande tabuleiro em que as pecinhas são pessoas. Sei lá, setores assim da sociedade que a gente empurra pra lá e pra cá e joga dados e faz apostas. Apostas que envolvem muito, mas muito dinheiro. Muito mesmo.

É engraçado. Eu não sei explicar por quê, mas ao mesmo tempo eu também fico meio aflito quando penso nisso. Acho que é porque a gente é responsável por todos, simplesmente todos os problemas sociais do mundo. Sério, existem algumas questões biológicas, umas patologias sem muita salvação, mas a grandíssima maior parte das maldades da humanidade só existem por causa de um sistema que a gente manipula e sustenta.

Mas isso é só um emprego, entende? Existe um sentimento subentendido de que estamos fazendo apenas o nosso trabalho. E o nosso trabalho é, basicamente, nada. Pode acreditar. Todas aquelas pessoas gritando e fazendo telefonemas desesperados lá na bolsa de valores, na verdade, não estão fazendo nada. Chega a ser engraçado. Essa parte também me dá uma certa aflição, mas é sério: todas aquelas pessoas estão lidando com nada mais do que puro ar.

Falo de dinheiro. Uma quantidade absurda de dinheiro que sequer é possível de imprimir. É um dinheiro que não existe. Um dinheiro abstrato, essencialmente infinito, já sem nenhuma relação direta com o mundo real. Só existe na cabeça das pessoas. Se você for ver, o dinheiro não passa de uns numerinhos numa tela. Uma porrada de números capazes de materializar coisas enormes. Tirando alguns deles, por exemplo, você ganha um jato particular.




É bizarro mesmo. Parece que é tudo um joguinho de computador, sabe? Algum jogo bem tosco, primitivo, bem nerd, em que você só faz clicar aqui e ali e fazer decisões e ficar olhando numerinhos subirem e descerem. Tá todo mundo jogando RPG na bolsa de valores. Mas um RPG, ao mesmo tempo, meio de tabuleiro. Nunca se sabe a carta que os outros têm na manga e o número que vai sair da próxima vez que jogarem o dado. E pra tornar o jogo ainda mais louco e divertido, a parada ainda tem aplicações diretas no mundo real. Mexa algumas peças, administre alguns nadas e lá está: uma gigantesca mansão na Índia. É estranhíssimo. Uma parada meio Jumanji.

Mas a coisa também funciona ao contrário. E é aí que tudo começa a esquentar. Porque tipo, se você pode manipular o nada pra criar coisas concretas, você pode mexer em coisas concretas pra criar o abstrato. E então, aumentando o seu número de abstrações inexistentes, você pode criar ainda mais coisas concretas.

Se você for pensar, isso não tem nenhum propósito pra humanidade. O dinheiro que você ganha ao prestar qualquer tipo de serviço pro mundo já tá valendo alguma coisa. Mas o que eu faço com os meus colegas, na realidade, não tá prestando nenhum serviço pra ninguém. É um jogo entre nós, apenas, em que vocês só são as peças usadas pra nossa brincadeira. As coisas que a gente cria do nada, ficam com a gente mesmo. É um RPG, até MMORPG, mas no final somos apenas nós jogando com nós mesmos. E ainda tem caras que morrem por essas merdas. Perdem cabelo, têm crise de estresse, ataque do coração… altas paradas. A preocupação com o nada começa a ser tanta pra esses caras que toda a jogatina acaba sem ter mais a menor graça.

Imagina só: se trabalhar só por dinheiro já é chato, imagina quando o seu trabalho consiste unicamente em fazer dinheiro? É assim com gente. Fazer dinheiro pra ganhar dinheiro. Fazer nada pra ganhar nada. E assim os caras seguem achando que têm um bando de coisa, mas só têm nada. É número atrás de número. Já não tem mais nem o que fazer com aquilo. Enche realmente o saco ficar nessa palhaçada uma vida inteira.

Mas a gente vai levando, sabe? É aquilo que eu falei. É só um trabalho. A gente põe isso na cabeça e vai fazendo o que acha que tem que fazer, mesmo que sem motivação nenhuma além de simplesmente exercer o trabalho de fazer nada.

Originalmente, esse esquema de mercado de ações era até uma ideia bacana. Rolava uma espécie de estímulo pras empresas se levantarem, inovarem, essas coisas. Era meio que uma espécie de apoio que os caras agradeceriam pagando de volta. Muito bonito. Todo mundo saía bem: a gente investia nas empresas, elas agradavam a população, o povo financiava, as empresas ganhavam, a gente era pago e investia em outras coisas e o ciclo recomeçava fazendo todo mundo feliz.

Mas isso aí não deve ter acontecido nem por 15 dias. Atualmente, uma empresa que usa papel reciclável despeja tolenadas de produtos tóxicos no primeiro rio que encontra pela frente. Fazem de propósito mesmo, pagam a multa e tudo porque sabem que a multa é mais barata do que o preço de se livrar daquele bando de lixo infeccioso bizarro. Não é nenhum tipo de descaso, fazem isso porque realmente dá mais grana. E notando que tão pouco se fodendo pro meio ambiente, você pergunta:

- Por que é que usam papel reciclado, então?

E eu respondo:

- Pros consumidores acharem bacana.

- Oras, e eles não descobrem essas coisas?

- Não, não descobrem.

E o motivo é incrível.

O mercado de ações de hoje em dia não funciona pra incentivar mais ninguém. A gente funciona pra reprimir, isso sim. Tente abrir algum negócio e a gente te sufoca com um monopólio disfarçado. Tá vendo esse monte de marca disso e daquilo por aí? São dezenas, centenas, milhares de caixas multicoloridas "competindo" no supermercado. Mas se você for pesquisar, na real, são apenas duas ou três corporações que controlam a porra toda. E os donos ainda são amigos. E é assim, um gigantesco monopólio imbatível. E mesmo que você tenha uma ideia verdadeiramente genial o suficiente pra nos desafiar, a gente sorri com orgulho e te compra pra fazer parte de nós.

No fim, é tudo tão interligado que chega a ser uma coisa só. Os mesmos caras que investem nisso, são donos daquilo. E os donos daquilo, também precisam disso. E aí eles começam a usar uma coisa pra valorizar a outra. A gente vende carrinhos pra bebês pra 20 anos depois eles quererem um de verdade. Você acha que essas coisas são por acaso? Os caras conspiram por meio de toda a realidade pra sustentar a irrealidade que cresce em suas contas bancárias. No fundo, a indústria vira uma coisa só, um pacote completo. Tudo pra chegar num ponto em que não importa mais se você compra disso ou daquilo. O que importa é que você apenas compre ALGUMA COISA. Só isso. E muitas delas.

E aí entra a mídia pra te convencer. Não falo só de séries e desenhos e filmes e músicas que lançam modas e ideologias que te convencem disso ou daquilo. Aí é que tá: o jornalismo, no fundo, também é completamente dependente de emissoras e editoras que investem nisso e naquilo e também precisam disso e compram daquilo. Quando você vai ver, tá tudo alinhado a uma porrada de corporações (se é que existem tantas assim). Então, é nesse momento que o cara vai pensar duas vezes antes de deixar ir ao ar aquela matéria que fala que a empresa em que ele mais investe (ou que mais investe nele) tá destruindo o planeta por alguns números numa telinha. Mesmo se você for um jornalista honesto, garanto que seu chefe vai te dar um tapinha nas costas e adiar sua matéria eternamente. Por alguns algarismos, ele sabe que é melhor não tocar no assunto. E aí está, finalmente, aquela motivação incrível pra ninguém ser informado de coisa alguma.

Mas é claro. As emissoras e editoras precisam da nossa credibilidade pra acreditar que a gente vai comprar o que elas querem que a gente compre. Por isso, de vez em quando, o pessoal do jornalismo é muito bonzinho e nos revela verdadeiros esquemas corruptos e alarmantes. Mas isso, obviamente, também é cheio de interesses econômicos relacionados. Se descobrem que algum concorrente fez merda, a coisa vai ao ar e aparece na primeira página do dia seguinte. Mas ninguém sabe direito quem é que ajuda ou atrapalha quem nesses negócios. Fica tudo no clima de jornalismo eficiente porque, nesse aspectos mais profundos, ninguém pode saber mesmo de nada. Existe um acordo unânime nas editoras e emissoras pra nunca ir muito a fundo no tema da falta de escrúpulos no mundo dos negócios. Motivos óbvios. Mas embora elas concordem aqui e ali, você ainda tem muita sorte de que existe mais de uma emissora. Agradeça de todo coração que nem tudo é um monopólio. Ainda.

Mas isso não é nada. Eu ainda tô pra chegar na parte verdadeiramente assustadora e inescrupulosa da coisa toda.

É que assim: uns caras não se contentam em ser lesmas milionárias. Pra trabalharem fazendo realmente NADA, eles precisam ser bi, tri, infinitonários. Acho que os caras fazem isso por puro tédio: uma saturação total de nada pra fazer. Então, esses entediados realmente se dedicam ao nosso dado supostamente aleatório do jogo de apostas. E aí, em vez tentar decifrar as tendências do mercado e fazer investimentos arriscados se baseando no interesse e bem-estar da população, os caras preferem atirar primeiro e perguntar depois. Mas aí eles precisam ter certeza da resposta. E dessa forma, então, eles preferem investir no que bem entendem e depois manipular todo o resto do mercado pra que o povo vá dar lucro pros tais investimentos. Deu pra entender? As pessoas precisam ser controladas. As pessoas têm que se adaptar ao sistema, e não mais o sistema que tem que se adaptar às pessoas.

Mas essa aí também nem é a parte malvada ainda.

A parte malvada de verdade é essa: por que diamante vale mais do que areia? Entra aqui a questão da oferta e da procura. Resumidamente, diamante vale mais do que areia porque você não pode abaixar em qualquer praia e tirar do chão um punhado de jóias. A questão não é que diamante dá mais trabalho de ir buscar, ou nem mesmo de que as utilidades do fortíssimo diamante são incrivelmente importantes e complexas. Isso não é nada. A questão do diamante valer mais do que areia é simplesmente porque tem areia pra caralho no mundo todo. Areia pode servir pra maravilhas, pode dar um trabalho incrível pra carregar pra lá e pra cá e, além de tudo, pode ser possível que areia manipulada até tome uma aparência linda e chique e maravilhosa. Pode ser o que for, mas a verdade é que areia nunca vai valer nada, simplesmente porque existe pra caralho. As coisas não precisam ter propósito algum pra valer alguma coisa. Elas precisam ser escassas. Só isso. E então os caras pensam assim: vamos destruir a porra toda.

Guerra e destruição. Agora sim a gente ficou malvado. O jogo só fica emocionante quando começa a dar merda. Não existe motivo pra isso, se você for pensar. Guerra serve pra quê? É só pra tirar os caras do tédio num trabalho que já perdeu a razão de existir. Fazendo uma síntese de tudo o que eu falei, é mais ou menos assim: guerra serve pras coisas serem destruídas e a gente precisar de muitos nadas pra criar realidade do abstrato e fazer mais nada ainda. Falando numa linguagem menos bizarra, guerra serve pra destruir coisas e fazer o mercado implorar por essas exatas coisas básicas que todo mundo perdeu. E aí a gente convence a galera de que tem que destruir tudo e vende as bombas, depois vai lá de novo e vende nossa dedicação pra reconstruir. Deu pra visualizar a lógica?

Algumas pessoas volta e meia notam que a gente sai sempre por cima quando rola uma guerrinha catastrófica. Mas sei lá, tão sempre com aquela noção básica de roubar territórios por matéria-prima e vender uma porrada de armamentos que sustentam nossa economia. Claro que isso tem uma importância chave pra indústria, mas a ideia por trás de tudo é mesmo a destruição por si só. Os maníacos realmente fanáticos pelo nosso RPG, passam noites revirando o manual e desvendando lógicas completamente insensatas pra descobrir um jeito novo de tirar proveito das situações mais incoerentes. Procuram falhas no sistema. E daí sempre rolam umas ideias mirabolantes. Se descobrem que de fato é possível lucrar com escassez, não querem nem saber. Começam imediatamente a quebrar tudo. E como de costume, não deixam ninguém ver. Porque tá tudo na mão deles.

Mesmo assim, a gente sempre tenta convencer as pessoas de que há motivo pra uma porção de guerras e conflitos e tudo o mais. Até conflitos pequenos já dão pro gasto. Sempre rola aquela história das drogas: a gente arma a América Latina pra sustentar o conflito das drogas e passa o resto da vida comprando cocaína deles e vendendo mais caro no nosso país. Legalização? Porra, jamais. O sistema já se acomodou assim. Vocês que se adaptem a ele. Afinal, crime e bagunça move muito mais grana do que paz e conforto. O povo não curte muito as primeiras opções, claro, mas acho que chega num ponto em que as pessoas começam a virar uns numerinhos abstratos nas nossas telinhas também.

A gente já não faz nada em nome de um povo ou governo ou país algum. A gente não tem princípios. A gente apenas vende. A gente não apóia lado algum. Tudo que a gente quer é que todos os lados existam. E se odeiem. E briguem para todo o sempre. Num exemplo óbvio, vendemos máquinas de escrever pra Campos de Concentração nazistas registrarem experiências horríveis e depois corremos pra derrubar Hitler.

Sério mesmo. É assim. Ninguém precisa se dar bem com isso além de uns camaradas de terno que só fazem nada. O povo se fode, países entram em crise e essa coisa toda. Mas pra gente, na verdade, é até bom que se irritem com isso. Sabe por quê? É pra fazer parecer que guerra é uma coisa realmente ruim e que deve ser evitada e tudo mais. Faz parecer que tipo: não, guerra não faz bem pra ninguém. Mas até parece. É óbvio que alguns indivíduos nunca, nunca mesmo, vão passar por momentos de dificuldade. Bancos vão a falência e tudo, mas você nunca vai me ver pedindo esmola na rua. Mesmo que o mundo esteja em chamas.

Pra gente, guerra é algo sempre bom, saudável, que destrói a porra toda e movimenta mais grana do que nunca. Mas você não vê, porque isso só acrescenta algumas vírgulas em contas bancárias que nunca vamos ter a chance de olhar. Mas é claro: todo o nada que tá naquelas contas serve pra se manifestar em luxos extravagantes e desnecessários.

É bizarro. É até meio inacreditável. É dessas coisas que têm até graça, mas dão um certo nervoso. Sinceramente, eu já nem sei mais o motivo de fazerem isso. E daí? Por que esses caras precisam sempre estar ganhando e gastando tanto? É como se ganhassem sem querer e tivessem que gastar porque os números não cabem mais na tela. E aí eles gastam, pra ganhar mais ainda, e começam a ficar desesperados nesse ciclo.

Parece que já tá todo mundo preso dentro de um enorme jogo idiota. É um jogo infinito que já perdeu o propósito e a graça de ser jogado. Um jogo de um bando de coroas de terno brincando com o planeta Terra simplesmente porque não têm mais nada pra fazer. Mas a gente joga. Vai fazer mais o quê?

É assustador pensar no mundo nas mãos de meia-dúzia de ricaços entediados. Eu sei. Dá uns calafrios pensar nesses monstros. Mas quer saber? A real é que são caras mesmo como eu e você. Os caras têm filhos em casa, coçam a bunda, tropeçam no tapete e tiram cera do ouvido. Tá entendendo? A gente também é gente, porra. Mas todo mundo esquece. Quando se dão conta de quem são os verdadeiros líderes desse mundo, logo aparecem com aquelas teorias maléficas de conspiração e illuminati e maçonaria e blablablá. Na real, não vou negar: essas porras existem mesmo. Mas sério… e daí? O que você acha que essa merda realmente quer dizer na prática? Os caras só tão firmando contatos e fazendo clima de fodões inatingíveis. Só entram pra essas "ordens secretas" pra se sentirem fodas e manter os coleguinhas próximos, se sentirem menos excluídos e finalmente falarem das merdas que fazem apenas com quem pode saber. E assim, fazendo essa cena ridícula e conspiratória, eles te convencem de que são uma mega organização internacional de super-humanos. Mas porra, e aí? Vai achar mesmo que os caras ficam trocando favores místicos pra controlar a humanidade e dando gargalhada em seus tronos maléficos?

Porra nenhuma. Juro que essas merdas até existem, mas no fundo é uma mera forma ridicularizada e primitiva de facilitar a corrupção e masturbar a sensação de poder num nível quase espiritual. Pra você ter uma ideia, a parada é tão inútil na prática que você sequer precisa acreditar nela: de um jeito ou de outro, é evidente que existe uma série de corruptos trocando favores e se sentindo fodões por aí. A questão é só de nomeclatura. Na real, não importa: pra agendinha de telefone desses caras, dê o nome que quiser. Os caras podem ser chamados de maçons, mas se quiser pode apenas chamá-los de filhos da puta.

Essa é a verdade. Corrupção existe em qualquer lugar. Confratenizações ritualísticas podem ser de todo e qualquer tipo. Um operário vai pro bar com os amigos, uns milionários botam máscaras de coelhinho e vão comer umas putas com tatuagem de pentagrama no que supostamente devia ser um grande ritual satânico illuminati. É sério. Mas isso não dá medo. É simplesmente babaca mesmo. Se você for pensar: grande merda. Dá no mesmo que ficar trocando presentes em volta de uma árvore quando chega o final do ano. Depois, tudo volta ao normal. Alguma hora, o presidente abaixa as calças e senta pra cagar. Tá dando pra entender? Não importa se o vaso é de ouro: a merda de todo mundo vai feder do mesmo jeito. No final, somos todos da mesma espécie. E os illuminati também peidam.

Foda-se, falo mesmo. Já me convidaram pra fazer parte dessas merdas. Disseram que eu era um homem de bons costumes e outras hipocrisias místicas, mas eu já tinha notado muito bem como é que funciona essa palhaçada. É assim: ficar trocando olhares misteriosos e apertos de mão secretos. Porra, os coroas acham que ainda tão na 3ª série? Além do mais, eu sempre preferi ser autônomo do que ter que passar por cerimônias babacas e primitivas de iniciação pra no final ter que ficar trocando agrados com um bando de abestalhados corruptos brincando de dominar o mundo sob uns supostos valores esotéricos idiotas.

No fundo, eles mesmos sabem que tudo é uma grande babaquice mesmo. Mas sabe qual é o pior de tudo? O pior é que realmente acabamos dominando o mundo de um jeito ou de outro. Mas também, se você for pensar, não dominamos porque somos melhores ou mágicos ou mais espertos do que ninguém. Só dominamos porque somos os únicos que têm saco pra viver uma vida com o único propósito de dominar. Dominamos porque temos um exército de pessoas que dizem para si mesmas que só estão o fazendo o trabalho delas e nos obedecem mesmo quando não concordam conosco porque foram criadas pra serem desesperadas por dinheiro. E a grande piada tá aqui: a gente também faz exatamente a mesma coisa. Seguimos dizendo pra nós mesmos que só estamos fazendo o nosso trabalho e seguimos adiante fazendo merda simplesmente por um dinheiro inexistente que ninguém precisa. E o planeta inteiro vai fluindo na inércia.

É tipo assim: uma massa de gente sem orgulho próprio que não têm propósito algum senão ganhar rios de nada pra materializar coisas que, no fundo, não passam de uma extensão do nada. É basicamente isso. Vive-se um eterno vazio. Um tédio pra sempre. Pode reparar. Ninguém mais se importa com as supostas funções que deviam cumprir na sociedade… as funções viram empregos, empregos viram atividades chatas e atividades chatas são deturpadas pra servir apenas pra ganhar dinheiro. Dinheiro que, no final, é um nada que materializa coisas que não significam nada. E no final, o cara estuda medicina e vira anestesista porque dá mais grana. Estuda como salvar vidas, mas prefere anestesiar vidas. Pra nada. E no fundo ainda queria ser arquiteto. Captou? Ninguém mais se importa em fazer nada de útil. E no final ninguém ganha nada de útil com a inutilidade que fazem.

Porra, não vou mentir. Eu sei e já falei aqui que não sirvo pra abolustamente nada. Na real, eu sirvo O NADA. É isso aí. Não sou prepotente de achar que sou especial porque tenho jatos e mansões e minha filha tem que ir na porra de um helicóptero pra escola. Eu sei reconhecer que, no fundo, como venho dizendo, dinheiro não quer dizer nada. Diamante dá no mesmo que areia. E é tudo uma questão de mentalidade. Uma mentalidade que, assim como o trabalho, a gente vai levando. E por isso, tudo acaba sem nunca acabar.

Mas eu tenho um segredo pra quem não aguenta mais essa merda. Eu, também, já não aguento mais essa merda. Mas esse ainda não é o segredo.

A parada é a seguinte: a essa as alturas, todo mundo já se deu conta de que a democracia é algo que não funciona pra mudar porra nenhuma. Mas ainda vale lembrar que ela existe. E eu não tô querendo simplesmente deixar uma mensagem melosa de esperança e otimismo. Não rola mais ter fé na democracia como pensam que ela é. O segredo mesmo, que eu tô pra falar, é esse: você não vota com o seu nome, e sim com o seu dinheiro.

Chega a ser ridículo, eu sei. Mas o único jeito de reverter essa palhaçada é falando na nossa língua. Eu vejo. Falo sério: eu tô com metade da sua grana. Eu sei que rola muito dinheiro invisível por aqui que devia estar com você e tá com a gente. Justamente com os trabalhadores do nada, os simuladores de funções sociais que ainda têm a cara-de-pau de cobrar caro por isso. Verdade. O seu dinheiro não desapareceu. A porra toda tá com a gente, com os caras que não fazem nada de útil e ainda causam metade das merdas da humanidade.

Então, se quiserem que sua grana seja mais do que numerinhos abstratos em uma telinha estúpida, tá na hora de parar e pensar duas vezes antes de ficar "fazendo o seu trabalho" e sustentando a porra do nosso tédio. Tá na hora de parar e pensar duas vezes antes de decidir quem é que você vai eleger na fila do supermercado. E pra falar a verdade, o ideal é que você sequer estivesse na merda de um supermercado.

O fato é que, afinal, vocês precisam escolher direito o que é que vai realmente fazer parte da vida de vocês. E eu não tô falando de uma escolha que só é feita em dia de eleição. Nem mesmo da escolha feita no shopping center. Falo de escolhas de todos os dias mesmo, pequenas e grandes coisas que aos poucos moldam uma vida toda. Falo dos valores que você carrega. E aí, assim como eu posso foder com a sua, você pode colher uma maçã numa árvore e já estará fodendo com a minha vida inteira.

E eu não sou masoquista. Mas sinceramente, eu agradeceria.

Depois de vida uma inteira jogando Jumanji, essa merda já mais do que encheu o saco. A brincadeira toda já perdeu a graça há muito tempo e agora só ficou aquela merda de aflição. Aqueles calafrios que me deixam com um sorriso amarelo. Mas sabe o que é? É escroto admitir, mas eu só não faço nada porque ninguém faz nada. Você sabe como é. A gente só abandona o tabuleiro quando ninguém mais tá aguentando jogar e toma coragem e percebe que levantar dali não é sair perdendo. E aí, nesse sentido, ainda me falta falta um pequeno empurrãozinho pra levantar daqui. Num puta tédio, eu tô esperando que você me dê um leve impulso. Sério mesmo. Qualquer coisa. Só faz esses caras pararem de jogar essa merda.

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